Jovial

Jovial

Eu vi meu amor
Eu senti meu amor
Estou jovem, e  hoje ...
Vou falar baixinho
Meu peito está cheinho.

 

Ventania

Uma árvore florida.

Balanço de corda

Vento no rosto

Sol na pele

Infância.

Bem que o tempo poderia parar!

Êxtase

Quero te amar

Te  abraçar

Te  sentir

Te chamar de meu amor

Me esquecer em teus braços,

e  deixar o tempo correr.

O coração aquecido pelo carinho –

falar, só se for baixinho,

pois estamos coladinhos...

sentir tua respiração e

ouvir as batidas do teu coração.

E nossos corpos quentes,

Nossos  beijos ardentes –

produzindo um ritual

de  emoção e felicidade

Puro êxtase!

Amor puro!

Sem truques...

Só pele

Só poesia

Só loucura ...

 

Carcaça

Delícia de banho!
Massagear a pele
Cuidado especial com os pés
Muito carinho com o rosto
A água caindo ... limpando ...
energizando ...revigorando...
relaxando... refrescando.
Uma toalha macia para enxugar
Um óleo perfumado para hidratar
Em contraposição... a dor de carregar o próprio cadáver
Corpo que os vermes devorarão! Carcaça.
Higiene e podridão!
Água e terra
A impermanência é a realidade.
Nem por isso é preciso descuidar
Cuidado e desapego
É possível?

Sem Razão

 

Tantas palavras não ditas ...
Uma vida para ser conhecida
Um fim de tarde
Um café quente
e muitas conversas
entrecortadas por momentos de silêncio,
quando as mãos se apertam, e
os olhares se cruzam
A alma está leve e o sorriso
brota de modo espontâneo
O coração está feliz
A paciência da escuta
O carinho pela história do outro
O encontro sem muita razão
Vidas que se cruzam
Momentos bem vividos
Sem planos, sem propósitos ...
O futuro é agora
Ficam as emoções e as memórias.

Servente de pedreiro

Servente de pedreiro

 

_ Professora, você já leu Contos Universais volume 11?

_ Não.

Uma descoberta incrível!

O servente de pedreiro lia

Franz Kafka, Edgar Allan Poe,

Jack London, Miguel de Cervantes,

Voltaire, Anton Tchekhov, entre outros.

Durante o dia, exposto ao sol

Durante a noite, as mãos calejadas frequentavam os bancos escolares.

Mas de sensibilidade aflorada

Dentre centenas de alunos,

Com força para carregar o cimento

E delicadeza para saborear as palavras

Pás, carriolas, cimento, construções, sol, suor.

Contos, poesia, alma, calma, descanso.

Me rendi à sensibilidade do servente de pedreiro.

Nunca mais o esqueci.

Nunca mais o vi.

Será que ainda constrói casas?

Ou já constrói seus próprios contos e poesias?

 

 

Saberes

 

Uma faca pontiaguda penetra o coração do animal

Gritos lancinantes

Tensão e agitação

Silêncio das crianças

O porco é exposto sobre a mesa

O pai de família começa o trabalho...

Lavar, cortar, separar:

Carne para a linguiça

Banha para cozidos e frituras

Couro para torresmo e pururuca

Costelas, pernil, suã

Pés, orelhas, rabo

Cabeça e vísceras para sabão

Conversas, comandas e socialização

Os vizinhos receberão uma porção

No chiqueiro ficou um vazio

E os outros porcos sentiram

No sítio, um dia festivo

Saberes, trabalho, relação